quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Em tempo de eleições, vale lembrar como são construídos certos "mitos" históricos.



Bandeirantes: Heróis ou vilões? A construção do mito

Túlio Vilela


Durante muito tempo, os bandeirantes foram encarados como "heróis". Eles teriam sido os desbravadores que contribuíram para a construção de nosso país, expandindo nossas fronteiras.

Essa imagem heróica acabou dando lugar a outra, oposta: os bandeirantes teriam sido bandidos crueis e sanguinários, que saqueavam aldeias indígenas, matando crianças, violentando mulheres e escravizando os índios.
Em nossos livros didáticos o bandeirante foi retratado dessas duas formas: ora herói, ora vilão. Ambas as imagens exageram aspectos verdadeiros da vida dos bandeirantes e ignoram outros.

Figuras polêmicas
Os bandeirantes estão entre as figuras mais polêmicas da história do Brasil. A confusão se dá entre a história dos bandeirantes propriamente dita e a construção da memória em torno deles.

A imagem que bandeirantes que há os traz calçados com botas de montar, vestidos com calções de veludo e casacas de couro almofadado. É desse modo que eles aparecem em pinturas, ilustrações de livros e até em estátuas.

A pesquisa histórica revela uma realidade bastante diferente: a maioria dos bandeirantes andava descalça e com roupas muito simples. Na verdade, todas as imagens que vemos dos bandeirantes foram feitas muito tempo depois da época em que eles viveram.

Expedições que geralmente partiam de São Paulo e eram organizadas com o fim de capturar índios e encontrar ouro e pedras preciosas, as bandeiras existiram do século 16 ao 18, enquanto as pinturas mais antigas sobre o tema foram feitas a partir do século 19, sob a ótica idealizadora do Romantismo.
A construção do mito
Outro fator que contribuiu para o mito do herói bandeirante foi a própria transformação de São Paulo em uma metrópole, que ocorreu muito tempo depois da época dos bandeirantes. No período colonial, São Paulo não passava de um povoado isolado com pouco mais de mil habitantes.

O crescimento da economia cafeeira contribuiu para que São Paulo crescesse. A região ganhou a fama de "terra do trabalho", de lugar em progresso. As elites paulistas resolveram difundir uma história idealizada, segundo a qual, as raízes desse progresso já existiam na época dos bandeirantes. Os membros da aristocracia do café seriam os descendentes diretos dos "heróicos bandeirantes".

Os paulistas, especialmente os membros da elite, traziam "no sangue" a herança dos bandeirantes, homens valentes que não tinham medo de desafios, o que explicaria porque os paulistas eram trabalhadores dedicados e incansáveis.

Repare que esse regionalismo está carregado de preconceito em relação aos habitantes de outras partes do Brasil: São Paulo seria uma exceção, terra de riqueza e progresso num país de miséria e atraso; o paulista leva o trabalho a sério enquanto os brasileiros de outros lugares seriam "preguiçosos".
Túlio Vilela formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula" (Editora Contexto).
Veja como essa imagem construída sobre São Paulo e os paulistas é, continuamente, aproveitada pela propaganda eleitoral dos candidatos para o governo do Estado, em momentos distintos. Os candidatos, de diferentes tendências partidárias, usam a pujança econômica do Estado como um resultado exclusivo da "força" do povo paulista. Nota-se também a transposição da História de São Paulo como a História do Brasil. Ou seja, passa-se se ideia de que se não fosse os paulistas, o Brasil não teria História para contar!
Enfim, mais um exemplo, de que a História, enquanto área do conhecimento usada como forma de compreender o mundo, é suscetível a manipulação e distorção, para atender a diferentes propósitos. 
Por isso, nunca é demais lembrar as palavras de Karl Marx, em seu livro "O 18 Brumário de Luís Bonaparte", segundo ele: "Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado."  

Aí está um dos motivos que me levam, cada vez mais, estudar História!

Agora, veja os vídeos:
2014:


1990:






segunda-feira, 1 de setembro de 2014

América Colonial: Síntese e exercícios

Para os alunos do 2o ano: A colonização espanhola (quadro sinótico)

A colonização espanhola
  • A ocupação e a colonização europeia na América buscaram complementar o desenvolvimento capitalista das burguesias nacionais e dos Estados mercantilistas.
  • A colonização espanhola concentrou-se, de início, na exploração mineradora, impondo o Pacto Colonial.
  • O impacto da chegada dos europeus sobre as populações ameríndias foi devastador.
  • O controle administrativo espanhol sobre as colônias ficou a cargo do Conselho Supremo das Índias, implantando-se o sistema de portos únicos e os vice-reinados.
  • Os altos cargos administrativos cabiam aos chapetones, ficando os cabildos (administrações locais) nas mãos dos criollos.
  • A exploração dos ameríndios era feita, principalmente, por meio da mita e da encomienda.

1. Assinale a afirmação INCORRETA.
a) Para administrar o Novo Mundo, a Espanha criou a Casa de Contratação, o Conselho Supremo das Índias e o sistema de portos únicos e subdividiu o seu império em quatro vice-reinos.
b) A administração local ficava a cargo dos cabildos, dos quais participavam a elite colonial espanhola – os chapetones – e os nativos.
c) Os criollos eram os descendentes de espanhóis nascidos na América.
d) A mita consistia no trabalho compulsório dos índios nas minas de ouro e prata, com uma remuneração baixíssima.
e) Na encomienda a Coroa espanhola concedia ao colonizador nativos para trabalharem forçadamente nas minas ou na agricultura, sendo que em troca deviam ser catequizados.

2. (UEL-PR) Dada a diversidade dos povos, a relativa escassez de fontes e a natureza das circunstâncias em que foram produzidas, seria temerário afirmar que os registros que chegaram até nós dão-nos a perspectiva “indígena” da conquista. Mas fornecem, na verdade, uma série de evocações pungentes, filtradas pelas lentes da derrota, do impacto que provocou em certas regiões a súbita erupção de invasores estrangeiros, cuja aparência e comportamento estavam tão distantes da expectativa normal.
(ELLIOTT, J. H. “A conquista espanhola e a colonização da América”. In: BETHELL, L. (Org.) História da América Latina. São Paulo: USP, 1998. p. 160.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:
a) Os marinheiros espanhóis, logo que chegaram ao “Novo Mundo”, constituíram famílias com as índias com o objetivo de introduzi-las, bem como a seus filhos, nas cortes europeias.
b) A violência e a destruição causadas pela conquista espanhola impediram a sobrevivência física dos nativos americanos, obstaculizando, também, a manutenção de relações coletivas de trabalho.
c) A unidade étnica e política dos países americanos resultou do movimento indígena de resistência à dominação dos países colonizadores.
d) A perspectiva indígena da conquista da América pelos europeus é um conjunto homogêneo de registros, porque as ações dos colonizadores, guiadas pelo respeito à diversidade, preservam os escritos das populações nativas.
e) Um dos efeitos danosos da conquista da América Latina diz respeito à forma como o sistema colonial estruturou-se, com a introdução do gado e do cultivo agrícola de produtos europeus, desorganizando as atividades e os modos de vida anteriores.

3. (PUC-RJ) Com exceção de uma, as opções abaixo apresentam de modo correto regiões das Américas onde se verificou largo emprego de mão de obra escrava de origem africana:
a) Vale do Paraíba do Sul, Brasil, meados do século XIX, produção de café.
b) Estados do sul, Estados Unidos da América, primeira metade do século XIX, produção de algodão.
c) Cuba, século XVIII, produção de açúcar.
d) Região das Minas, América portuguesa, meados dos séculos XVIII, extração de ouro.
e) Vice-reino do Peru, América espanhola, século XVII, extração de prata.

4. (UFR-RJ) Leia o texto a seguir.
Um dos períodos [da história do México] mais riscados, apagados e emendados com maior fúria tem sido a da Nova Espanha. [...] A Nova Espanha não se parece nem com o México pré-colombiano nem com o atual. E muito menos com a Espanha, embora tenha sido um território submetido à coroa espanhola.
(PAZ, O. Sóror Juana Inés de la Cruz: As artimanhas da fé. São Paulo: Mandarim, 1998.)
Sobre a sociedade colonial construída em Nova Espanha, é correto afirmar que
a) se apoiava, como na sociedade colonial brasileira, em uma divisão bipolar entre senhores europeus de um lado e escravos africanos do outro, visto que os indígenas haviam sido quase absolutamente exterminados no processo de conquista por doenças ou pela violência do colonizador.
b) se distinguia de outras sociedades coloniais, pois as diferenças sociais presentes nela eram de classe e não de cunho étnico: não importava a cor da pele para a determinação de um lugar social, mas as posses de um indivíduo.
c) se tratava, como em outras sociedades coloniais, de uma sociedade de superiores e de inferiores que, entretanto, reconhecia os mestiços, filhos de senhores brancos com mulheres indígenas, como fazendo parte da elite política local, sendo chamados criollos.
d) recaíam, exclusivamente, os privilégios da sociedade colonial sobre a minoria branca que apresentava, contudo, uma divisão interna entre aqueles brancos nascidos na Europa, ocupantes dos cargos de nível superior, e aqueles nascidos na América, ocupantes de posições claramente secundárias na hierarquia social.
e) se constituía em uma sociedade com uma estrutura hierárquica bem clara, em cuja base se encontravam os grupos desprovidos de quaisquer direitos sociais: índios e negros africanos, ambos trabalhando como escravos e sendo tratados exclusivamente como mercadoria, vendidos e comprados em grandes mercados nas principais cidades mexicanas.

5. (Fuvest) Frei Antônio de Montesinos, em 1512, no Caribe, pregava aos conquistadores espanhóis: "Com que direito haveis desencadeado uma guerra atroz contra essas gentes que viviam pacificamente em sua própria terra? Por que os deixais em semelhante estado de extenuação? Por que os matais a exigir que vos tragam diariamente seu ouro? Acaso não são eles homens? Acaso não possuem razão e alma? Não é vossa obrigação amá-los como a vós próprios?" Explique essas palavras de Montesinos dentro do contexto da conquista espanhola da América.
6. (Unesp) "Em uma esquematização levada ao extremo, pode-se dizer que os primeiros cento e cinqüenta anos da presença espanhola nas Américas foram marcados por grandes êxitos econômicos para a Coroa e para a minoria espanhola que participou diretamente da conquista, e pela destruição de grande parte da população indígena preexistente..."
(Celso Furtado, Formação Econômica da América Latina.)
a) A que principal atividade ligam-se "os grandes êxitos econômicos"?
b) A que se deve "a destruição de grande parte da população indígena preexistente"?

RESPOSTAS:
1. B
2. E
3. E
4. D
5. a) Os espanhóis beneficiaram-se da exploração colonial por conta da primazia e sucesso da extração de metais.
b) No processo de dominação e conquista da América, os  europeus combinaram vários elementos que possibilitaram a destruição das estruturas sociais locais. As armas de fogo (mosquetes, arcabuzes, pistolas e canhões) proporcionavam uma vantagem tripla para o conquistador: permitiam combater à distância, provocavam ferimentos de  morte ou inutilização do adversário, além de causarem terror psicológico acentuado por conta do espanto que o nativo demonstrava ao verificar o efeito da utilização desses instrumentos. O uso do cavalo deu ao conquistador grande mobilidade nos combates e despertava o temor no ameríndio já que o animal não era conhecido na América. Os espanhóis foram favorecidos também pela existência de lendas, crenças e superstições locais que chegavam a divinizar a figura dos conquistadores. A imposição da cristandade e valores europeus contribuíram para subjugar os nativos que, por serem considerados inferiores e “sem fé”, tiveram seus valores desprezados e alterados pelo conquistador. E, por fim, a proliferação de várias doenças como tifo, sarampo, varíola, febre, por exemplo, das quais os nativos não possuíam capacidade imunológica.
6. O texto reflete o extermínio das populações indígenas da América de colonização espanhola, notadamente no Caribe, onde ocorreu verdadeiro desaparecimento das populações nativas. Apesar da visão inocente e idealista dos indígenas da América presente nas palavras do religioso, percebe-se o reconhecimento da existência do caráter humano no indígena, visto como ser dotado de alma e razão. A maior parte dos colonizadores da época (inclusive membros do clero) negava essa visão.

Alunos do 1o ano: texto sobre a Baixa Idade Média, Renascimento Cultural e Exercícios com Gabarito

BAIXA IDADE MÉDIA: CRISE DO FEUDALISMO
                A crise do Sistema Feudal tem sua origem no século XI e está relacionada ao crescimento populacional. Este, por sua vez, está relacionado a um conjunto de inovações técnicas, tais como o uso da charrua (máquina de revolver a terra), o peitoril (para melhor aproveitamento da força do cavalo no arado ), uso de ferraduras e o moinho d'água.
                A estas inovações técnicas, observa-se uma expansão da agricultura, com a ampliação de áreas para o cultivo (a conquista dos bosques, pântanos...). Sabendo-se que a produtividade agrícola era baixa- mesmo com as inovações acima- o crescimento populacional acarreta uma série de problemas sociais: o banditismo, aumento da miséria, guerras internas por mais terras... As Cruzadas foram, neste contexto, uma tentativa para solucionar tais problemas.

1.       AS CRUZADAS
                Foram convocadas pelo papa Urbano II, em 1095, com o objetivo oficial de libertar a Terra Santa (Jerusalém) do domínio muçulmano. No entanto, outros fatores contribuíram para a organização das Cruzadas: canalizar o espírito guerreiro dos nobres para o oriente; o ideal de peregrinação cristã; o interesse econômico em algumas regiões do oriente e a necessidade de exportar a miséria em virtude do crescimento populacional.
                As principais consequências das Cruzadas foram:
-reabertura do mar Mediterrâneo e o desenvolvimento do intercâmbio comercial entre o Ocidente e o Oriente;
-fortalecimento do poder real, em virtude do empobrecimento Dos senhores feudais;
-o renascimento urbano.

2.       Renascimento Comercial
- As Rotas
                O comércio de produtos na Europa desenvolve-se em dois centros:
a)      no Norte da Europa, onde a Liga Hanseática -união de cidades alemãs- através dos mares do Norte e Báltico, monopolizava o comércio de peles, madeiras, peixes secos, etc.;
b)      na Itália, onde cidades como Veneza e Gênova, monopolizavam o comércio de produtos vindos do Oriente, como a seda, cravo, canela, etc...
                Estes centros comerciais eram interligados por rotas terrestres, sendo que a mais importante era a de Champagne.

-As feiras
                Contribuíram para a dinamização do comércio e das trocas monetárias. Desenvolveram-se no encontro de rotas comerciais (os nós de trânsito ). A principal feira ocorria na cidade de Champagne, na França.


3.       Renascimento Urbano
                O intenso desenvolvimento comercial colaborou para o desenvolvimento das cidades medievais e de uma nova classe social, a burguesia.
                A burguesia inicia uma luta pela emancipação das cidades dos domínios do senhor feudal ( movimento comunal).
                No interior das cidades (Burgos), a produção urbana estava organizada nas chamadas Corporações de Ofício (Guildas, na Itália). O principal objetivo destas organizações era regulamentar a produção, defendendo o justo preço e praticando o monopólio.
                O interior da Corporação de Ofício apresentava uma divisão hierárquica, a saber: o mestre, o aprendiz e o jornaleiro - pessoa que recebia por uma jornada de trabalho.

4.       FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS
                A formação das Monarquias Nacionais está associada à aliança entre a burguesia comercial e o rei, efetivada no final da Baixa Idade Média.
                O interesse da burguesia nesta aliança era econômico, pois o senhor feudal era um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades: impostos excessivos, pesos e medidas não padronizados e ausência de unificação monetária.
                Já o rei, que buscava centralizar o poder político, a classe de senhores feudais representava seu principal obstáculo (lembre-se que o poder político feudal era fragmentado ). Para fazer valer sua autoridade era necessário a criação de um exército, formado por mercenários.
                Assim, a burguesia comercial passa a financiar a montagem deste exército. O rei passa a superar o senhor feudal e a impor sua vontade. A centralização do poder político implica na unificação econômica: padronização de pesos, medidas e monetária, incentivando as trocas comerciais. A Monarquia passa a criar as Companhias de Comércio, onde o monopólio da atividade comercial ficará a cargo da burguesia.

5.       A CRISE DO SÉCULO XIV
                O final da Idade Média é marcado por uma séria crise social, econômica e política - a denominada tríada: a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e a fome, responsáveis pelas revoltas camponesas.
a) crise econômica: Como vimos, a partir do século XI, houve uma expansão da agricultura. Ocorre que as terras de boa qualidade ficam cada vez mais raras, acarretando uma diminuição na produtividade. Soma-se a isto, uma série de transformações climáticas na Europa, responsáveis pela perda de colheitas e gerando uma escassez de alimentos e períodos de fome (1315 a 1317, 1362, 1374 a 1438 ).Enfraquecida pela fome, a população européia fica vulnerável às epidemias, como no caso da Peste Negra, trazida do Oriente. Calcula-se que um terço da população européia desapareceu. A epidemia, aliada às sucessivas crises agrícolas, provoca uma enorme escassez de mão-de-obra, levando os servos a fazerem exigências por melhores condições de vida. Muitos servos conseguiam comprar a sua liberdade. Em algumas regiões, no entanto, às exigências dos servos foram seguidas pelo aumento dos laços de dependência, acarretando as revoltas camponesas. Tanto em um caso - abertura do sistema, quando o servo adquire a sua liberdade; como no outro - fechamento do sistema, quando os laços de dependência são ampliados - o resultado será o agravamento da crise feudal e o início de um novo conjunto de relações sociais.
b) crise política: O período medieval foi marcado pelos conflitos militares, dada a agressividade da nobreza feudal. Entre estes conflitos, A Guerra do Cem Anos ( 1337/1453 ) merece destaque. A Guerra dos Cem Anos ocorreu entre o reino da França e o reino da Inglaterra, motivada por motivos políticos - a sucessão do trono francês entre Filipe de Valois e Eduardo III, rei da Inglaterra; e motivos econômicos - a disputa pela região da Flandres, importante área produtora de manufaturas. Ao longo do combate, franceses e ingleses obtiveram vitórias significativas. Entre seus principais personagens, destaque para a figura de Joana d'Arc, que no ano de 1431 foi condenada à fogueira. Após a sua morte os franceses expulsaram os ingleses, vencendo a guerra. Esta longa guerra prejudicou a economia dos dois reinos e contribuiu para o empobrecimento da nobreza feudal e, consequentemente, o seu enfraquecimento político. Ao mesmo tempo que a nobreza perdia poder, a autoridade do rei ficava fortalecida, beneficiando o processo de construção das Monarquias Nacionais.


6.       A IGREJA MEDIEVAL
                A principal instituição medieval será a Igreja Católica. Esta exercia um papel decisivo em todos os setores da vida medieval: na organização econômica, na coesão social, na legitimação da dominação política e nas manifestações culturais.
                O clero estava organizado em clero secular (que vivia no mundo cotidiano em contato com os fiéis) e o clero regular ( que vivia nos mosteiros, isolando do mundo) que obedecia regras. Trata-se dos beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.
                O topo da hierarquia eclesiástica era (e ainda é) ocupada pelo papa. Este exercia dois tipos de poderes, o espiritual (autoridade religiosa máxima) e o poder temporal ( poder político decorrente das grandes extensões de terra que a Igreja possuía ). O exercício do poder temporal levou a Igreja a envolver-se em questões políticas, como a célebre Querela das Investiduras.

-Movimentos reformistas
                A interferência da Igreja em assuntos políticos, a corrupção eclesiástica, o desregramento moral do clero e a venda de bens eclesiásticos levaram a Igreja a afastar-se de seu ideal religioso.
                No século XI surgiu um movimento reformista que buscava recuperar a autoridade moral da Igreja, originado a Ordem de Cluny, que tinha por objetivo seguir as regras da Ordem Beneditina ( castidade, pobreza, caridade, obediência, oração e trabalho). O papa Gregório VII, que se envolveu na Querela das Investiduras, havia sido um monge desta ordem.
                Outras ordens religiosas surgiram, as chamadas Ordens mendicantes, como a dos cartuxos e dos cistercienses. Pregando a pobreza absoluta e vivendo da caridade, surge a Ordem dos Franciscanos e dos Dominicanos.

- Inquisição
                A perda da autoridade moral da Igreja Católica propiciou o desenvolvimento de uma série de doutrinas, crenças e superstições denominadas heresias, que contrariavam os dogmas da Igreja.
                Para combater os movimentos heréticos, o papa Gregório IX criou, em 1231, os Tribunais de Inquisição, com a missão de julgar os considerados hereges. Os condenados eram entregues às autoridades administrativas do Estado, que executavam a sentença.
                A Inquisição desempenhava um importante papel político, freando os movimentos contrários aos interesses das classes dominantes.

7.       CULTURA MEDIEVAL
                Referir-se à Idade Média como a "Idade das Trevas" é um grave erro. Tal concepção representa uma visão distorcida do período medieval. Este preconceito com a Idade Média originou-se no século XVIII com o Iluminismo - fortemente anticlerical.
                No entanto, o período medieval foi riquíssimo em atividade cultural.
Educação: controlada pelo clero católico, que dominava as escolas dos mosteiros, escolas paroquiais e as universidades.
                O surgimento e expansão das universidades estão relacionadas com o desenvolvimento das cidades, bem como o surgimento de uma nova classe social: a burguesia comercial.
Os ramos de conhecimento estudados nas universidades medievais eram: Teologia e Filosofia, Letras, Ciências, Direito e Medicina. O ensino era ministrado em latim.

RENASCIMENTO CULTURAL
CONCEITO
                Renascimento cultural foi um movimento artístico-intelectual que, a partir do século XV, recusou o pensamento religioso medieval, colocando o ser humano no centro de todos os interesses.

1.       Antecedentes
                O Renascimento cultural, ou Renascença, foi marcado por um retorno aos valores e características da antiguidade clássica greco-romana. Os renascentistas faziam várias críticas ao período medieval, dominado pelos valores culturais e religiosos da Igreja.
                Por este motivo, para eles, a Idade Média foi um período de pouco avanço cultural, que ficava entre a Antiguidade e a Modernidade. Modernidade era a forma como denominavam o período em que viviam.
                Assim, a Modernidade foi caracterizada como uma época de progresso intelectual, na qual se fazia renascer a cultura clássica greco-romana. Daí a origem do termo Renascimento.
                Para os homens da época, a cultura greco-romana era muito superior à cultura medieval. Assim, a Idade Média passou a ser denominada Idade das Trevas.
                Vale ressaltar que, atualmente, o termo Idade das Trevas é questionado pelos historiadores.

2.       Características
                O Renascimento Cultural foi um movimento com características próprias. Uma delas foi o retorno à cultura greco-romana, pois os renascentistas achavam que gregos e romanos tinham um conhecimento mais amplo da vida.
                Outra característica foi o humanismo e o antropocentrismo , pois o homem passou a ser o centro de todas as atenções – até então situado nas coisas divinas.
                Além disso, foi caracterizado pelo hedonismo e individualismo , considerando a intensa preocupação como o prazer e a liberdade do indivíduo.
                Foi marcado também pelo racionalismo e valorização da natureza, uma vez que os renascentistas passaram a adotar métodos experimentais e de observação da natureza.
                Vale ressaltar que estas características faziam um contraponto aos valores medievais, marcado, geralmente, pelo teocentrismo , pela negação dos desejos humanos e pelo conhecimento marcado pela fé.

3.       Onde e quando ocorreu

                A Itália foi o berço do Renascimento cultural. Um dos motivos foi o fato da Itália ter sido herdeira direta do Império Romano. Assim, havia um contato constante com resquícios da cultura romana
                Além disso, o forte desenvolvimento econômico das cidades italianas possibilitou que os comerciantes financiassem os artistas.
                O período de maior produção renascentista, na Itália, foi de 1450 a 1550. No restante da Europa, ele ocorreu durante todo o século XVI.
                Os pensadores, escritores do Renascimento eram conhecidos como humanistas, ou seja, grandes conhecedores da cultura clássica.
                Boa parte destes representantes do Renascimento se destacou na Itália, especialmente na pintura e na escultura. Outros, tiveram destaque fora da Itália, principalmente na literatura e na filosofia.

*Alguns representantes na Itália
ü  Leonardo da Vinci (1452-1519): foi pintor, arquiteto, escultor, físico, engenheiro, entre outros. É autor, entre outras obras, da Mona Lisa e A Última Ceia.
ü  Michelângelo Buonarroti (1475-1564): foi arquiteto, escultor e pintor. É autor de obras como, Pietá, Davi, Moisés e pinturas da Capela Sistina.
ü  Nicolau Maquiavel (1469-1527): historiador e diplomata, é considerado o fundador do pensamento e da ciência política moderna.
ü  Sandro Botticelli (1444-1510): também pintou um grande número de madonas, além de quadros de inspiração religiosa e pagã, como A Primavera e O Nascimento de Vênus.
ü  Galileu Galilei (1564-1642): matemático, físico e astrônomo, foi um dos primeiros estudiosos a usar o método experimental para estudar a natureza e comprovar suas teorias. Construiu a primeira luneta astronômica, por meio da qual demonstrou que o centro do universo é o sol e não a terra.

4.       Os mecenas
                O comércio intenso com o Oriente fez algumas cidades italianas acumularem grandes fortunas.
                Com isso, dispunham de condições materiais para financiar a produção artística de escultores, pintores, arquitetos, músicos, entre outros.
                Os próprios governantes e papas passaram a dar proteção e ajuda financeira aos artistas e intelectuais. Era, em outras palavras, uma espécie de patrocínio.
                Este patrocínio era denominado mecenato e, os patrocinadores, eram chamados de mecenas. Em linhas gerais, o mecenato visava tornar o poder central mais popular.
Assim, os donos do poder se valiam dos artistas para se tornarem conhecidos através de estátuas, pinturas, obras escritas e canções.

*Alguns representantes fora da Itália
ü  Erasmo de Roterdã (1466-1536): nascido nos Países Baixos, destacou-se na literatura e na filosofia. Criticou a sociedade do seu tempo na obra Elogia da Loucura.
ü  Michel de Montaigne (1533-1592): nascido na França, foi um célebre filósofo e moralista, autor de Ensaios.
ü  Willian Shakespeare (1564-1616): nascido na Inglaterra, destacou-se na literatura e teatro, autor de Romeu e Julieta, Hamlet, entre outros.
ü  Miguel de Cervantes (1547-1616): nascido na Espanha, destacou-se na literatura, autor de Dom Quixote de la Mancha.
ü  André Vesálio (1514-1564): nascido na Bélgica, é considerado o pai da anatomia moderna, autor de De Humani Corporis Fabrica.

Análise de uma obra Renascentista:



O beijo retratado por Giotto é o dado por Judas em Jesus, no momento em que trai o Mestre, indicando-o para a tropa romana. Judas abraça Jesus, mas este não retribui seu abraço, permanece ereto, resignado, mas sem evitar o abraço traidor. Seus rostos se põem frente a frente e Jesus olha firme em direção à Judas. Este, ao contrário, parece não conseguir fitar o Mestre, seus olhos se perdem para o alto, vazios. As duas cabeças não se superpõem, mas há um pequeno espaço vazio que Judas se esforça por transpor com seu beijo mortal. 


EXERCÍCIOS:

1. a) Pico della Mirandola apresenta o homem como senhor de seu destino.
b) Sim. O texto embasa sua argumentação em um princípio fortemente religioso
2. a) Artes: a proliferação dos retratos; ciências: a competição e a necessidade de desenvolver conhecimentos
úteis para os homens;
b) Artes: o uso das medidas e proporções na arquitetura e nas pinturas; ciências: a adoção do modelo
experimental e a influência do pensamento matemático;
c) Artes: os estudos sobre a natureza e corpos humanos; ciências: os estudos sobre os corpos celestes
e da Física;
d) Artes: influência nas obras plásticas e filosóficas; ciências: recuperação do pensamento matemático.
3. A vida livre nas cidades e a competição entre os habitantes das repúblicas italianas estimulavam a
concorrência entre as pessoas, no caso os artesãos/artistas do período. O outro aspecto é a prática do
patrocínio, chamada de mecenato, que consistia na contratação dos artistas para realizarem trabalhos
em suas cidades.
5. a) É descrita como uma vida cheia de injustiças e desigualdades, na qual o dinheiro e a propriedade
individual ocupam um lugar central.
b) Utopia é uma sociedade muito organizada, na qual todos os homens trabalham de acordo com as
necessidades. Ao contrário da sociedade apresentada no Livro Primeiro, em Utopia as pessoas são
todas beneficiadas pelo seu trabalho.
6. Maquiavel afirma que existem duas formas de manter o governo: pelas leis (própria dos homens) ou
pela força (própria dos animais). Com o intuito de manter o governo, o príncipe não pode se submeter
às mesmas regras dos homens considerados bons, sendo muitas vezes obrigado a agir pela força
contra religião, caridade e fé. O aspecto mais importante é que Maquiavel trata da aparência do poder:
o governante deve aparentar ter qualidades que não necessariamente ele tem, pois assim facilita o
domínio sobre os súditos.
7. Ela permitiu a difusão do conhecimento por custos muito menores do que os pergaminhos medievais.
Tornou mais ágil a difusão de novas ideias, além de livros e folhetos que tiraram o monopólio do
saber da Igreja.

São Paulo Colonial

Texto Especial para o 2o ano.

Como era uma expedição dos bandeirantes?

Eram viagens arriscadas, e muitas vezes sangrentas, organizadas para explorar o território brasileiro à procura de riquezas minerais, novas terras e escravos. As grandes expedições começaram em 1554, tendo como principal ponto de partida a vila de São Paulo de Piratininga, a atual cidade de São Paulo. A princípio essas viagens eram chamadas de entradas e contavam com financiamento e apoio do governo colonial. Já as bandeiras eram empreendimentos particulares, financiados por fazendeiros ou comerciantes que esperavam lucrar com os resultados da empreitada. Os motivos que moviam os bandeirantes, os principais caminhos que eles percorreram e como era o dia-a-dia de uma expedição, você confere a seguir.

Vale-tudo colonialÍndios foram as principais vítimas das expedições
TROPA SEM ELITE
As expedições tinham umas 50 pessoas e contavam tanto com homens livres - por exemplo mateiros que conheciam a região a ser explorada - como com escravos negros e índios. Os escravos ficavam com o trabalho duro, como arrastar as canoas fora dos rios
ARTILHARIA
No arsenal dos bandeirantes, a arma principal era o arcabuz, uma espingarda carregada pela boca e que disparava pequenas bolas de ferro ou até mesmo pedregulhos recolhidos pelo caminho. Os homens tinham ainda pistolas, facões, machados e foices
CARDÁPIO LIMITADO
Para comer, os homens caçavam, pescavam e coletavam frutas. Outro item básico era a farinha-de-guerra, feita de mandioca cozida. A comida era preparada em fogueiras, onde os homens se reuniam para comer duas vezes por dia
SIGAM O LÍDER!
Conhecido como "capitão", o líder do grupo recrutava os integrantes e mantinha a disciplina dos homens. Em geral, usava um colete sem mangas feito de couro acolchoado - chamado de estupil - que protegia as costas e o peito de flechas lançadas por índios
DUAS CARAS
Pelo caminho, os bandeirantes encontravam aldeias indígenas. Os desbravadores, heróis para muita gente, não faziam questão de ser simpáticos: aprisionavam e escravizavam índios, que ainda eram obrigados a revelar os locais de minas de metais preciosos
GOLPE DO BAÚ
Baús de madeira serviam para levar a bagagem e também para erguer o acampamento. Cabanas eram improvisadas usando os baús como "paredes". Os bandeirantes também podiam agrupar os baús em círculo, dormindo no interior dele
SE A CANOA NÃO VIRAR...
Burros com cangas - armações onde eram presos os baús - ajudavam a levar as cargas. Mas o principal meio de transporte eram as canoas. Com fundo chato, elas podiam navegar por rios de pouca profundidade e eram tão largas que acomodavam até os animais de carga
De norte a sulRotas dos bandeirantes foram do Pará ao Uruguai
Seguindo o curso dos grandes rios, as bandeiras costumavam iniciar suas viagens percorrendo o rio Tietê, no estado de São Paulo. Rumo ao sul, algumas chegaram até o Uruguai. Na direção norte, bandeirantes alcançaram até o atual estado do Pará!
Me dê motivosViagens eram financiadas tendo em vista três objetivos
Mão-de-obra
O objetivo de muitas viagens era recapturar escravos fugitivos ou então encontrar índios que pudessem ser escravizados
Terra
Fazendeiros financiadores usavam as expedições para ampliar suas terras, aumentando o território para cultivo ou criação de gado
Riqueza
Comerciantes endinheirados organizavam bandeiras para descobrir novas minas e depósitos de ouro, prata e pedras como a esmeralda
(Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-era-uma-expedicao-dos-bandeirantes)

Brasil Colônia

Texto para os alunos do 2o ano.

Economia açucareira no Brasil Colônia: doce inferno!

Os árabes apresentaram o açúcar aos mercados europeus medievais. Todas as pessoas da Europa queriam experimentar a novidade. Porém, o produto era raro e caro, saboreado apenas pelos ricos.

Os portugueses, para garantir a posse da nova terra e também por causa do açúcar, resolveram colonizar o Brasil, pois na Europa era muito difícil plantar cana-de-açúcar, enquanto que no litoral do Nordeste brasileiro as chuvas eram boas, o clima era favorável e além disso, existia o ótimo solo de massapé. Para os portugueses, portanto, o clima tropical e a terra do Brasil eram uma riqueza que não existia na Europa.

O açúcar foi o produto colonial brasileiro mais importante e tornou o país no maior produtor nos séculos  XVI e XVII, adoçando, assim, a economia. Porém, o trabalho escravo empregado nas lavouras canavieiras deu um gosto amargo a essa fase da nossa História.  

Como se deu a implantação dos engenhos no Brasil? Quais os interesses envolvidos nesse empreendimento? Onde e como se produzia o açúcar? Qual a importância desse produto para a economia brasileira e no mercado europeu? Estas curiosidades e demais informações referentes à monocultura da cana-de-açúcar no contexto do Brasil colônia estão detalhadas a seguir.

AÇÚCAR: UM NEGÓCIO LUCRATIVO

Para garantir a posse da terra americana, protegendo-a de ameaças estrangeiras, Portugal decidiu colonizar o Brasil. Mas, para isso, seria preciso desenvolver uma atividade econômica lucrativa que compensasse o empreendimento. A solução encontrada pelo governo português foi implantar a produção açucareira em certos trechos do litoral, uma vez que o açúcar era um produto amplamente consumido na Europa. Martin Afonso de Souza trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar da ilha da Madeira e instalou o primeiro engenho da colônia em São Vicente, no ano de 1533. Inaugurava-se, assim, a base econômica da colonização portuguesa no Brasil. Por meio da cultura da cana, seria possível organizar o cultivo permanente do solo, iniciando o povoamento sistemático da colônia.

Em pouco tempo, a produção açucareira acabou superando em importância a atividade extrativa do pau-brasil, embora a exploração intensa dessa madeira tenha continuado até o início do século XVII. Os engenhos multiplicaram-se rapidamente pela costa brasileira, chegando a 400 em 1610. A importância econômica do açúcar como principal riqueza colonial evidencia-se no valor das exportações do produto no período do apogeu da mineração (século XVIII): superior a 3000 milhões de libras esterlinas, enquanto a mineração, na mesma época, gerou um lucro de cerca de 200 milhões.
 
A economia açucareira foi de grande importância na consolidação dos interesses econômicos da metrópole
 
Além das condições naturais favoráveis ao desenvolvimento da lavoura canavieira, havia a experiência portuguesa com o cultivo bem-sucedido de cana-de-açúcar na ilha da Madeira e no arquipélago dos Açores.

O empreendimento açucareiro contou com a participação dos holandeses. Enquanto os portugueses dominaram a produção de açúcar, os holandeses controlaram a distribuição comercial (transporte, refino e venda no mercado europeu). Como produzir era menos rentável que comercializar, o negócio foi mais lucrativo para os holandeses do que para os portugueses.

A produção do açúcar voltava-se exclusivamente para a exportação e, por gerar elevados lucros, comandava a economia colonial. Outras lavouras desenvolveram-se na colônia, mas geralmente apresentavam um caráter complementar e secundário. À produção canavieira destinavam-se as melhores terras, grandes investimentos de capital e a maioria da mão-de-obra. “Apesar da ênfase dada à agroexportação, a economia colonial não se esgotava nas plantações de açúcar voltadas para o mercado europeu. [...] Havia os pequenos produtores de alimentos que, utilizando o trabalho familiar e/ou escravo, abasteciam os engenhos e as cidades”. (Fragoso; Florentino; Faria apud SCHMIDT, 2005, p. 231).

A SOCIEDADE AÇUCAREIRA

Nos primeiros séculos da colonização, parcela considerável da população colonial concentrava-se no campo, em torno das grandes propriedades rurais ligadas à produção agrícola e pecuária. As principais produtoras de açúcar eram as capitanias da Bahia e de Pernambuco, mas também era produzido nas capitanias do Rio de Janeiro e de São Vicente.

O açúcar era produzido principalmente nos engenhos, que além de serem unidades produtivas, eram núcleo social, administrativo e cultural. Para alguns historiadores, o engenho de açúcar é a unidade produtiva que melhor caracteriza as condições de riqueza, poder, prestígio e nobreza do Brasil Colonial. (Faria apud COTRIM, 2005, p. 210). Havia no engenho a casa-grande, um casarão térreo ou um sobrado geralmente construído num lugar central e um pouco elevado da propriedade. Na casa-grande moravam o senhor de engenho e sua família, além de capatazes que cuidavam de sua segurança pessoal. Os quartos e salas eram espaçosos e existia uma grande varanda onde o senhor de engenho descansava e ficava de olho na propriedade. O senhor de engenho era o proprietário desse estabelecimento e geralmente sua autoridade ultrapassava os limites de suas terras, estendendo-se às vilas e aos povoados vizinhos.

Senhores, escravos e trabalhadores assalariados formavam a sociedade açucareira. Entre os últimos contavam-se os feitores, mestres-de-açúcar, purgadores, agregados, padres, alguns funcionários do rei e profissionais liberais (médicos, advogados, engenheiros).

Como vimos, o senhor de engenho vivia na ampla e fresca casa-grande, no entanto, os escravos eram alojados em uma pequena, suja, baixa e quente senzala com poucas janelas. A senzala era uma construção coletiva e rústica. Segundo Schwartz, "as senzalas consistiam de cabanas separadas, de paredes de barro e telhado de sapé, ou, mais caracteristicamente, de construções enfileiradas divididas em compartimentos, cada um ocupado por uma família ou unidade residencial" (Schwartz apud. COTRIM, 2005, p. 210). As camas eram feitas de varas, o chão era de terra batida, os utensílios da cozinha eram feitos de estanho, a roupa feita de algodão grosso. Não havia privacidade para as famílias. Na mesma senzala viviam escravos vindos de regiões diversificadas da África, com costumes, tradições, religiões diferentes.

No engenho, havia ainda a capela, onde a comunidade local se reunia nos domingos, em dias santos, em batizados, casamentos e funerais.

Além da capela, das moradias das famílias de senhores e de escravos, havia construções reservadas propriamente à produção do açúcar, chamadas de casa de engenho, com instalações como a moenda e as fornalhas; a casa de purgar, onde o açúcar, depois de resfriado e condensado, era branqueado; e os galpões, onde os blocos de açúcar eram quebrados em várias partes e reduzidos a pó. As máquinas dos grandes engenhos eram de alta tecnologia para a época. Vinham da Europa e o senhor de engenho mandava importar ferramentas de metal, roupas de luxo para sua família, comidas especiais (vinho, azeite, queijos) e alguns móveis e objetos para a casa. As diferenças sociais, como se percebe, já eram grandes naquela época. Isso fica mais evidente ainda quando tomamos conhecimento de que “os escravos comiam tudo o que lhes caísse nas mãos. Além de sua cota de comida, os escravos adulavam, mendigavam e roubavam por mais alimento” (op. cit).
Composição de um engenho
A desigualdade social do Brasil nasceu no Nordeste açucareiro. Os senhores de engenho eram ricos e poderosos, mas eles não eram os únicos. Os grandes comerciantes que importavam e exportavam mercadorias e traziam escravos da África para serem vendidos no Brasil também acumulavam fortunas. Abaixo da elite, vinha uma multidão de homens livres pobres: pequenos proprietários de terra, artesãos, pequenos comerciantes. Na última camada social estavam os escravos, que em algumas regiões eles eram mais da metade da população.

OS PÉS E AS MÃOS DO SENHOR DE ENGENHO

Quase tudo no engenho era feito pelo trabalho escravo, por isso dizia-se que os escravos eram as mãos e pés do senhor de engenho.

Na etapa inicial da empresa açucareira, o colonizador utilizou-se do trabalho escravo do indígena, considerando que havia encontrado solução relativamente barata e suficiente para atender a necessidade de mão-de-obra. Entretanto, a partir do início do século XVII, ocorreu uma grande redução da população indígena em consequência das guerras dos colonos contra os índios e das sucessivas epidemias que os vitimavam. Isso, aliado a outros fatores, fez o colono português encontrar uma alternativa que suprisse a necessidade: escravizar os negros africanos. Na verdade, Portugal já escravizara os africanos nas suas ilhas coloniais do Atlântico. No entanto, o principal fator que motivou a escravização dos africanos, segundo Fernando Novais, foi os lucros gerados pelo tráfico negreiro (Novais apud COTRIM, 2005, p. 213).

Os ganhos com o comércio dos indígenas capturados ficavam dentro da colônia, com os que se dedicavam a esse tipo de atividade. Já os lucros com o tráfico negreiro iam para a metrópole, ou seja, para os negociantes envolvidos nesse comércio e para a Coroa, que recebia os impostos. Por isso, a escravização dos africanos foi incentivada, enquanto a dos indígenas foi desestimulada e até mesmo proibida em certos lugares e períodos.

Os escravos foram o elemento crucial na manufatura do açúcar. Suas condições de vida e trabalho são fundamentais para explicar a natureza da sociedade que se originou da economia açucareira. No século XVII, muitos senhores de engenho aparentemente aceitavam a teoria da administração da escravaria mencionada por Antonil, segundo a qual os cativos necessitavam de três P, a saber: pau, pão e pano. (op. cit).

Os negros eram capturados na África pelos portugueses que, não raramente, promoviam ou estimulavam guerras entre as tribos africanas para poderem comprar, dos chefes vencedores, os negros derrotados. Aos poucos, os sobas, chefes locais africanos, passaram a capturar seus conterrâneos e a negociá-los com os traficantes, em troca de fumo, tecidos, cachaça, armas, jóias, vidros, etc.
Rugendas - Nègres a fond de cale
A mão-de-obra africana representou a base das atividades econômicas no Brasil colonial, como a produção de açúcar e a mineração. Entretanto, além de trabalhar nos engenhos e nas minas, os africanos também foram utilizados em outros cultivos agrícolas, na criação de animais, no transporte, no serviço doméstico e no comércio.

Mesmo considerando a diversidade das cifras, entre os estudiosos, sobre o tráfico de escravos capturados na África, alguns números finais certamente estão bem próximos do que já se chamou de "holocausto negro". Os escravos chegavam ao Brasil amontoados nos porões de navios negreiros chamados tumbeiros, sujeitos a condições tão insalubres pela superlotação e a longa duração da viagem, que a média de mortalidade era estimada em 20%.

Não seria exagero estimar que o número de vítimas envolvendo os escravos transportados e os que morreram na luta contra as incursões brancas chegaria a algo próximo do dobro ou até do triplo dos africanos deslocados para a América. Calcula-se que, até o século XIX, entre 10 e 15 milhões de africanos, dos quais cerca de 40% vieram para o Brasil, foram capturados pelos brancos e deslocados para a América.

A CRISE DO AÇÚCAR

No século XVII, a Holanda era uma das maiores potências econômicas da Europa. Um dos negócios mais lucrativos da burguesia flamenga tinha a ver com o açúcar do Brasil. Os holandeses financiavam a produção do açúcar, em troca recebiam o pagamento dos juros. Em várias ocasiões, os comerciantes portugueses contrataram companhias de navegação holandesas para transportar o açúcar do Brasil até Lisboa. Grande parte do açúcar saía do Brasil em estado bruto para ser refinado em Amsterdã.

Naqueles tempos de mercantilismo, os burgueses holandeses monopolizavam muitas rotas de comércio de açúcar entre os países europeus. Por isso os comerciantes portugueses tinham de vender seu açúcar diretamente aos holandeses, que revendiam pelo resto da Europa.

No entanto, a ligação comercial amistosa que existia entre Holanda, Portugal e Brasil foi encerrada, quando aconteceu a União Ibérica, ou seja, o jovem rei português, D. Sebastião morreu sem deixar filhos e o parente mais próximo era o seu primo, Filipe II, rei da Espanha. Dessa maneira, Filipe II tornou-se também rei de Portugal. A União Ibérica durou de 1580 a 1640. Acontece que na época a Holanda estava em guerra com a Espanha, sua antiga metrópole.

A Espanha fez de tudo para atrapalhar os negócios dos holandeses, decretando o embargo espanhol, onde o comércio entre as colônias que estavam sob o domínio espanhol estava suspenso com a Holanda.

A forma encontrada pelos holandeses para não perderem seu lucrativo comércio era invadir o Brasil. Em 1621, os holandeses haviam fundado a Companhia das Índias Ocidentais. A ocupação do nordeste brasileiro foi planejada pelos dirigentes dessa Companhia. Em 1624, a frota holandesa chegou à Bahia e tentou tomar Salvador. Porém, uma poderosa expedição militar portuguesa-espanhola veio em apoio aos baianos e os holandeses foram obrigados a se retirar. Mas não desistiram. Em 1630, enviaram uma frota mais poderosa ainda e conquistaram Olinda, a capital pernambucana. Os holandeses dominaram o Nordeste de 1630 a 1654, mas o interessante é que houve uma harmonia entre os holandeses e os senhores de engenho, pois na verdade os batavos queriam apenas restabelecer seu comércio. A única diferença é que, em vez de vender aos portugueses, os senhores de engenho passaram a vender diretamente aos holandeses.
Invasões holandesas
O mais importante administrador do Brasil holandês foi o príncipe Maurício de Nassau. Ele era contratado pela Companhia das Índias Ocidentais e fez de tudo para que os senhores de engenho colaborassem com os holandeses.

Em 1640, encerrou-se a União Ibérica e Portugal voltava a ter seu rei próprio. Apesar disso, os holandeses permaneceram no Brasil, mas a Holanda estava desgastada e não podia mais investir tanto nas terras brasileiras. A Companhia das Índias Ocidentais demitiu Nassau e nomeou novos administradores que acabaram descontentando os senhores de engenho. Em 1654, a Cia. se retirou do Brasil após conflitos com os donos dos engenhos. Em troca, Portugal pagou uma indenização que incluía ouro e prata, carregamentos de açúcar e de tabaco para os holandeses.

Os holandeses instalaram engenhos nas Antilhas e começaram a exportar açúcar para a Europa. Dessa maneira, a produção mundial de açúcar aumentou demais e o açúcar brasileiro passou a ter de disputar compradores com o açúcar antilhano, o que fez os preços caírem. O consumo na Europa também havia diminuído devido a uma crise. Muitos senhores de engenho faliram. No entanto, o consumo interno aumentou.

No século XVIII, o açúcar caiu para o segundo lugar em importância na economia brasileira, superado pelo ouro. Hoje em dia ele ainda ocupa um lugar de destaque. No Brasil contemporâneo, a propriedade de terra continua sendo uma das mais concentradas do mundo. Cerca de 3% da população rural detém, aproximadamente, 43% das terras agrícolas disponíveis. Herança do período colonial... Nessas imensas fazendas, há dezenas de milhares de hectares de terras que não são aproveitadas. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar da atualidade, mas seu destino é a produção de álcool e biocombustível. (fonte:http://www.knowledge.allianz.com.br/br/energy_co2/biofuels_crops.html)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O plantio da cana-de-açúcar foi, a princípio, um motivo para a ocupação e colonização do Brasil. Mas por se tratar de um produto altamente consumido nos países europeus, ele se tornou a principal fonte de riqueza do Brasil na época colonial.
O cultivo da cana-de-açúcar exigia muita mão-de-obra, então a escravidão dos negros africanos se apresentou como um lucrativo negócio em detrimento à escravidão indígena.
Desde a sua captura até o exercício das suas funções na colônia os escravos eram maltratados, mas foram eles que fizeram o sucesso financeiro dos senhores de engenho e de outros privilegiados da época.
As relações comerciais existentes entre Portugal, Holanda e Brasil eram boas até que se formou a União Ibérica e desestruturou essa parceria devido aos conflitos entre holandeses e espanhóis.
Por quase 25 anos a Holanda apoderou-se do Brasil, controlando seu lucrativo comércio açucareiro com a Europa, No entanto, após a expulsão dos holandeses das terras brasileiras, a economia açucareira entrou em crise, em primeiro lugar pelo fato de os holandeses terem se tornado concorrentes com o Brasil, empreendendo o cultivo de cana-de-açúcar nas Antilhas, e em segundo lugar pela crise que a Europa enfrentara no século XVII diminuindo o consumo do produto.
Na atualidade o Brasil é o maior produtor do mundo de cana-de-açúcar, voltado principalmente para a produção de álcool e etanol. O Brasil também apresenta má distribuição de terras provavelmente decorrente da época colonial quando os representantes do governo português favoreciam poucas pessoas, concedendo-lhes grandes áreas rurais destinadas à construção de engenhos ou outros estabelecimentos.
O Brasil dos Holandeses:
(Fonte: http://professor-josimar.blogspot.com.br/2011/01/os-gostos-doce-e-amargo-da-economia-do.html)