segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Brasil Colônia

Texto para os alunos do 2o ano.

Economia açucareira no Brasil Colônia: doce inferno!

Os árabes apresentaram o açúcar aos mercados europeus medievais. Todas as pessoas da Europa queriam experimentar a novidade. Porém, o produto era raro e caro, saboreado apenas pelos ricos.

Os portugueses, para garantir a posse da nova terra e também por causa do açúcar, resolveram colonizar o Brasil, pois na Europa era muito difícil plantar cana-de-açúcar, enquanto que no litoral do Nordeste brasileiro as chuvas eram boas, o clima era favorável e além disso, existia o ótimo solo de massapé. Para os portugueses, portanto, o clima tropical e a terra do Brasil eram uma riqueza que não existia na Europa.

O açúcar foi o produto colonial brasileiro mais importante e tornou o país no maior produtor nos séculos  XVI e XVII, adoçando, assim, a economia. Porém, o trabalho escravo empregado nas lavouras canavieiras deu um gosto amargo a essa fase da nossa História.  

Como se deu a implantação dos engenhos no Brasil? Quais os interesses envolvidos nesse empreendimento? Onde e como se produzia o açúcar? Qual a importância desse produto para a economia brasileira e no mercado europeu? Estas curiosidades e demais informações referentes à monocultura da cana-de-açúcar no contexto do Brasil colônia estão detalhadas a seguir.

AÇÚCAR: UM NEGÓCIO LUCRATIVO

Para garantir a posse da terra americana, protegendo-a de ameaças estrangeiras, Portugal decidiu colonizar o Brasil. Mas, para isso, seria preciso desenvolver uma atividade econômica lucrativa que compensasse o empreendimento. A solução encontrada pelo governo português foi implantar a produção açucareira em certos trechos do litoral, uma vez que o açúcar era um produto amplamente consumido na Europa. Martin Afonso de Souza trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar da ilha da Madeira e instalou o primeiro engenho da colônia em São Vicente, no ano de 1533. Inaugurava-se, assim, a base econômica da colonização portuguesa no Brasil. Por meio da cultura da cana, seria possível organizar o cultivo permanente do solo, iniciando o povoamento sistemático da colônia.

Em pouco tempo, a produção açucareira acabou superando em importância a atividade extrativa do pau-brasil, embora a exploração intensa dessa madeira tenha continuado até o início do século XVII. Os engenhos multiplicaram-se rapidamente pela costa brasileira, chegando a 400 em 1610. A importância econômica do açúcar como principal riqueza colonial evidencia-se no valor das exportações do produto no período do apogeu da mineração (século XVIII): superior a 3000 milhões de libras esterlinas, enquanto a mineração, na mesma época, gerou um lucro de cerca de 200 milhões.
 
A economia açucareira foi de grande importância na consolidação dos interesses econômicos da metrópole
 
Além das condições naturais favoráveis ao desenvolvimento da lavoura canavieira, havia a experiência portuguesa com o cultivo bem-sucedido de cana-de-açúcar na ilha da Madeira e no arquipélago dos Açores.

O empreendimento açucareiro contou com a participação dos holandeses. Enquanto os portugueses dominaram a produção de açúcar, os holandeses controlaram a distribuição comercial (transporte, refino e venda no mercado europeu). Como produzir era menos rentável que comercializar, o negócio foi mais lucrativo para os holandeses do que para os portugueses.

A produção do açúcar voltava-se exclusivamente para a exportação e, por gerar elevados lucros, comandava a economia colonial. Outras lavouras desenvolveram-se na colônia, mas geralmente apresentavam um caráter complementar e secundário. À produção canavieira destinavam-se as melhores terras, grandes investimentos de capital e a maioria da mão-de-obra. “Apesar da ênfase dada à agroexportação, a economia colonial não se esgotava nas plantações de açúcar voltadas para o mercado europeu. [...] Havia os pequenos produtores de alimentos que, utilizando o trabalho familiar e/ou escravo, abasteciam os engenhos e as cidades”. (Fragoso; Florentino; Faria apud SCHMIDT, 2005, p. 231).

A SOCIEDADE AÇUCAREIRA

Nos primeiros séculos da colonização, parcela considerável da população colonial concentrava-se no campo, em torno das grandes propriedades rurais ligadas à produção agrícola e pecuária. As principais produtoras de açúcar eram as capitanias da Bahia e de Pernambuco, mas também era produzido nas capitanias do Rio de Janeiro e de São Vicente.

O açúcar era produzido principalmente nos engenhos, que além de serem unidades produtivas, eram núcleo social, administrativo e cultural. Para alguns historiadores, o engenho de açúcar é a unidade produtiva que melhor caracteriza as condições de riqueza, poder, prestígio e nobreza do Brasil Colonial. (Faria apud COTRIM, 2005, p. 210). Havia no engenho a casa-grande, um casarão térreo ou um sobrado geralmente construído num lugar central e um pouco elevado da propriedade. Na casa-grande moravam o senhor de engenho e sua família, além de capatazes que cuidavam de sua segurança pessoal. Os quartos e salas eram espaçosos e existia uma grande varanda onde o senhor de engenho descansava e ficava de olho na propriedade. O senhor de engenho era o proprietário desse estabelecimento e geralmente sua autoridade ultrapassava os limites de suas terras, estendendo-se às vilas e aos povoados vizinhos.

Senhores, escravos e trabalhadores assalariados formavam a sociedade açucareira. Entre os últimos contavam-se os feitores, mestres-de-açúcar, purgadores, agregados, padres, alguns funcionários do rei e profissionais liberais (médicos, advogados, engenheiros).

Como vimos, o senhor de engenho vivia na ampla e fresca casa-grande, no entanto, os escravos eram alojados em uma pequena, suja, baixa e quente senzala com poucas janelas. A senzala era uma construção coletiva e rústica. Segundo Schwartz, "as senzalas consistiam de cabanas separadas, de paredes de barro e telhado de sapé, ou, mais caracteristicamente, de construções enfileiradas divididas em compartimentos, cada um ocupado por uma família ou unidade residencial" (Schwartz apud. COTRIM, 2005, p. 210). As camas eram feitas de varas, o chão era de terra batida, os utensílios da cozinha eram feitos de estanho, a roupa feita de algodão grosso. Não havia privacidade para as famílias. Na mesma senzala viviam escravos vindos de regiões diversificadas da África, com costumes, tradições, religiões diferentes.

No engenho, havia ainda a capela, onde a comunidade local se reunia nos domingos, em dias santos, em batizados, casamentos e funerais.

Além da capela, das moradias das famílias de senhores e de escravos, havia construções reservadas propriamente à produção do açúcar, chamadas de casa de engenho, com instalações como a moenda e as fornalhas; a casa de purgar, onde o açúcar, depois de resfriado e condensado, era branqueado; e os galpões, onde os blocos de açúcar eram quebrados em várias partes e reduzidos a pó. As máquinas dos grandes engenhos eram de alta tecnologia para a época. Vinham da Europa e o senhor de engenho mandava importar ferramentas de metal, roupas de luxo para sua família, comidas especiais (vinho, azeite, queijos) e alguns móveis e objetos para a casa. As diferenças sociais, como se percebe, já eram grandes naquela época. Isso fica mais evidente ainda quando tomamos conhecimento de que “os escravos comiam tudo o que lhes caísse nas mãos. Além de sua cota de comida, os escravos adulavam, mendigavam e roubavam por mais alimento” (op. cit).
Composição de um engenho
A desigualdade social do Brasil nasceu no Nordeste açucareiro. Os senhores de engenho eram ricos e poderosos, mas eles não eram os únicos. Os grandes comerciantes que importavam e exportavam mercadorias e traziam escravos da África para serem vendidos no Brasil também acumulavam fortunas. Abaixo da elite, vinha uma multidão de homens livres pobres: pequenos proprietários de terra, artesãos, pequenos comerciantes. Na última camada social estavam os escravos, que em algumas regiões eles eram mais da metade da população.

OS PÉS E AS MÃOS DO SENHOR DE ENGENHO

Quase tudo no engenho era feito pelo trabalho escravo, por isso dizia-se que os escravos eram as mãos e pés do senhor de engenho.

Na etapa inicial da empresa açucareira, o colonizador utilizou-se do trabalho escravo do indígena, considerando que havia encontrado solução relativamente barata e suficiente para atender a necessidade de mão-de-obra. Entretanto, a partir do início do século XVII, ocorreu uma grande redução da população indígena em consequência das guerras dos colonos contra os índios e das sucessivas epidemias que os vitimavam. Isso, aliado a outros fatores, fez o colono português encontrar uma alternativa que suprisse a necessidade: escravizar os negros africanos. Na verdade, Portugal já escravizara os africanos nas suas ilhas coloniais do Atlântico. No entanto, o principal fator que motivou a escravização dos africanos, segundo Fernando Novais, foi os lucros gerados pelo tráfico negreiro (Novais apud COTRIM, 2005, p. 213).

Os ganhos com o comércio dos indígenas capturados ficavam dentro da colônia, com os que se dedicavam a esse tipo de atividade. Já os lucros com o tráfico negreiro iam para a metrópole, ou seja, para os negociantes envolvidos nesse comércio e para a Coroa, que recebia os impostos. Por isso, a escravização dos africanos foi incentivada, enquanto a dos indígenas foi desestimulada e até mesmo proibida em certos lugares e períodos.

Os escravos foram o elemento crucial na manufatura do açúcar. Suas condições de vida e trabalho são fundamentais para explicar a natureza da sociedade que se originou da economia açucareira. No século XVII, muitos senhores de engenho aparentemente aceitavam a teoria da administração da escravaria mencionada por Antonil, segundo a qual os cativos necessitavam de três P, a saber: pau, pão e pano. (op. cit).

Os negros eram capturados na África pelos portugueses que, não raramente, promoviam ou estimulavam guerras entre as tribos africanas para poderem comprar, dos chefes vencedores, os negros derrotados. Aos poucos, os sobas, chefes locais africanos, passaram a capturar seus conterrâneos e a negociá-los com os traficantes, em troca de fumo, tecidos, cachaça, armas, jóias, vidros, etc.
Rugendas - Nègres a fond de cale
A mão-de-obra africana representou a base das atividades econômicas no Brasil colonial, como a produção de açúcar e a mineração. Entretanto, além de trabalhar nos engenhos e nas minas, os africanos também foram utilizados em outros cultivos agrícolas, na criação de animais, no transporte, no serviço doméstico e no comércio.

Mesmo considerando a diversidade das cifras, entre os estudiosos, sobre o tráfico de escravos capturados na África, alguns números finais certamente estão bem próximos do que já se chamou de "holocausto negro". Os escravos chegavam ao Brasil amontoados nos porões de navios negreiros chamados tumbeiros, sujeitos a condições tão insalubres pela superlotação e a longa duração da viagem, que a média de mortalidade era estimada em 20%.

Não seria exagero estimar que o número de vítimas envolvendo os escravos transportados e os que morreram na luta contra as incursões brancas chegaria a algo próximo do dobro ou até do triplo dos africanos deslocados para a América. Calcula-se que, até o século XIX, entre 10 e 15 milhões de africanos, dos quais cerca de 40% vieram para o Brasil, foram capturados pelos brancos e deslocados para a América.

A CRISE DO AÇÚCAR

No século XVII, a Holanda era uma das maiores potências econômicas da Europa. Um dos negócios mais lucrativos da burguesia flamenga tinha a ver com o açúcar do Brasil. Os holandeses financiavam a produção do açúcar, em troca recebiam o pagamento dos juros. Em várias ocasiões, os comerciantes portugueses contrataram companhias de navegação holandesas para transportar o açúcar do Brasil até Lisboa. Grande parte do açúcar saía do Brasil em estado bruto para ser refinado em Amsterdã.

Naqueles tempos de mercantilismo, os burgueses holandeses monopolizavam muitas rotas de comércio de açúcar entre os países europeus. Por isso os comerciantes portugueses tinham de vender seu açúcar diretamente aos holandeses, que revendiam pelo resto da Europa.

No entanto, a ligação comercial amistosa que existia entre Holanda, Portugal e Brasil foi encerrada, quando aconteceu a União Ibérica, ou seja, o jovem rei português, D. Sebastião morreu sem deixar filhos e o parente mais próximo era o seu primo, Filipe II, rei da Espanha. Dessa maneira, Filipe II tornou-se também rei de Portugal. A União Ibérica durou de 1580 a 1640. Acontece que na época a Holanda estava em guerra com a Espanha, sua antiga metrópole.

A Espanha fez de tudo para atrapalhar os negócios dos holandeses, decretando o embargo espanhol, onde o comércio entre as colônias que estavam sob o domínio espanhol estava suspenso com a Holanda.

A forma encontrada pelos holandeses para não perderem seu lucrativo comércio era invadir o Brasil. Em 1621, os holandeses haviam fundado a Companhia das Índias Ocidentais. A ocupação do nordeste brasileiro foi planejada pelos dirigentes dessa Companhia. Em 1624, a frota holandesa chegou à Bahia e tentou tomar Salvador. Porém, uma poderosa expedição militar portuguesa-espanhola veio em apoio aos baianos e os holandeses foram obrigados a se retirar. Mas não desistiram. Em 1630, enviaram uma frota mais poderosa ainda e conquistaram Olinda, a capital pernambucana. Os holandeses dominaram o Nordeste de 1630 a 1654, mas o interessante é que houve uma harmonia entre os holandeses e os senhores de engenho, pois na verdade os batavos queriam apenas restabelecer seu comércio. A única diferença é que, em vez de vender aos portugueses, os senhores de engenho passaram a vender diretamente aos holandeses.
Invasões holandesas
O mais importante administrador do Brasil holandês foi o príncipe Maurício de Nassau. Ele era contratado pela Companhia das Índias Ocidentais e fez de tudo para que os senhores de engenho colaborassem com os holandeses.

Em 1640, encerrou-se a União Ibérica e Portugal voltava a ter seu rei próprio. Apesar disso, os holandeses permaneceram no Brasil, mas a Holanda estava desgastada e não podia mais investir tanto nas terras brasileiras. A Companhia das Índias Ocidentais demitiu Nassau e nomeou novos administradores que acabaram descontentando os senhores de engenho. Em 1654, a Cia. se retirou do Brasil após conflitos com os donos dos engenhos. Em troca, Portugal pagou uma indenização que incluía ouro e prata, carregamentos de açúcar e de tabaco para os holandeses.

Os holandeses instalaram engenhos nas Antilhas e começaram a exportar açúcar para a Europa. Dessa maneira, a produção mundial de açúcar aumentou demais e o açúcar brasileiro passou a ter de disputar compradores com o açúcar antilhano, o que fez os preços caírem. O consumo na Europa também havia diminuído devido a uma crise. Muitos senhores de engenho faliram. No entanto, o consumo interno aumentou.

No século XVIII, o açúcar caiu para o segundo lugar em importância na economia brasileira, superado pelo ouro. Hoje em dia ele ainda ocupa um lugar de destaque. No Brasil contemporâneo, a propriedade de terra continua sendo uma das mais concentradas do mundo. Cerca de 3% da população rural detém, aproximadamente, 43% das terras agrícolas disponíveis. Herança do período colonial... Nessas imensas fazendas, há dezenas de milhares de hectares de terras que não são aproveitadas. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar da atualidade, mas seu destino é a produção de álcool e biocombustível. (fonte:http://www.knowledge.allianz.com.br/br/energy_co2/biofuels_crops.html)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O plantio da cana-de-açúcar foi, a princípio, um motivo para a ocupação e colonização do Brasil. Mas por se tratar de um produto altamente consumido nos países europeus, ele se tornou a principal fonte de riqueza do Brasil na época colonial.
O cultivo da cana-de-açúcar exigia muita mão-de-obra, então a escravidão dos negros africanos se apresentou como um lucrativo negócio em detrimento à escravidão indígena.
Desde a sua captura até o exercício das suas funções na colônia os escravos eram maltratados, mas foram eles que fizeram o sucesso financeiro dos senhores de engenho e de outros privilegiados da época.
As relações comerciais existentes entre Portugal, Holanda e Brasil eram boas até que se formou a União Ibérica e desestruturou essa parceria devido aos conflitos entre holandeses e espanhóis.
Por quase 25 anos a Holanda apoderou-se do Brasil, controlando seu lucrativo comércio açucareiro com a Europa, No entanto, após a expulsão dos holandeses das terras brasileiras, a economia açucareira entrou em crise, em primeiro lugar pelo fato de os holandeses terem se tornado concorrentes com o Brasil, empreendendo o cultivo de cana-de-açúcar nas Antilhas, e em segundo lugar pela crise que a Europa enfrentara no século XVII diminuindo o consumo do produto.
Na atualidade o Brasil é o maior produtor do mundo de cana-de-açúcar, voltado principalmente para a produção de álcool e etanol. O Brasil também apresenta má distribuição de terras provavelmente decorrente da época colonial quando os representantes do governo português favoreciam poucas pessoas, concedendo-lhes grandes áreas rurais destinadas à construção de engenhos ou outros estabelecimentos.
O Brasil dos Holandeses:
(Fonte: http://professor-josimar.blogspot.com.br/2011/01/os-gostos-doce-e-amargo-da-economia-do.html)

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