sábado, 14 de junho de 2014

Atividade sobre feudalismo - 1o. ano Ensino Médio

Tema: A Formação do Feudalismo

O processo de gestação do feudalismo foi bastante longo: remonta à crise romana do século III, passando pela constituição dos reinos germânicos nos séculos V-VI e pelos problemas do Império Carolíngio no século IX, para finalmente se concluir por volta do ano 1000. Apesar de, em cada região, os elementos constitutivos terem tido um peso diferente, podemos afirmar que sete deles estiveram sempre presentes.

A Ruralização da Sociedade Ocidental
Este elemento tem raízes muito antigas. A civilização romana na sua fase inicial estivera baseada na agricultura, porém, devido às dificuldades apresentadas por aquele solo pouco favorável, o comércio acabou por se tornar o setor econômico mais dinâmico. Contudo, as imensas conquistas territoriais e o consequente afluxo de riquezas provocaram profundas alterações, de grande alcance na sociedade e na economia latinas. Dentre elas, um grande crescimento do número de escravos, o enfraquecimento da camada de pequenos e médios proprietários rurais e a concentração de terras nas mãos de poucos indivíduos.
            Essa era uma sociedade urbana, naturalmente a crise se manifestava mais claramente nas cidades, com as lutas sociais, a retração demográfica, a pressão do banditismo e dos bárbaros, a contração do comércio e da indústria artesanal. Entende-se, portanto, por que os mais ricos se retiravam para suas grandes propriedades rurais (villae), onde estariam mais seguros e poderiam obter praticamente tudo aquilo que necessitavam para viver.

O Enrijecimento da Hierarquia Social
Enquanto na Roma Clássica o critério fundamental de diferenciação social era a liberdade, a partir do século IV estabeleceu-se a vitaliciedade e hereditariedade das funções, isto é, a atividade de cada indivíduo – não importa se senador ou camponês, professor ou comerciante, soldado ou artesão – valia por toda sua vida e era imposta a seus filhos.

A Fragmentação do Poder Central
Aquela situação socioeconômica ao mesmo tempo reforçava e era reforçado pelo enfraquecimento e desmembramento do poder político estatal. Com a ruralização, a tendência à autossuficiência de cada latifúndio e as crescentes dificuldades nas comunicações, os representantes do poder imperial foram perdendo a capacidade de ação sobre os vastos territórios. Mais do que isso, os próprios latifundiários foram ganhando atribuições que eram anteriormente da competência do Estado. Em suma, ocorria um retrocesso das instituições públicas, ou melhor, sua apropriação por parte de individuou que detinham grandes extensões de terras e nelas exerciam, em proveito próprio, atribuições anteriormente pertencentes ao Estado.

O Desenvolvimento das Relações Pessoais
De tudo que acabamos de ver, resultou um fortalecimento das relações pessoais em prejuízo das institucionais.
Todavia a instituição que mais êxito teria no desenvolvimento das relações de dependência pessoal foi a vassalagem.
É verdade que, inicialmente, no século VI, a palavra “vassalo” tinha uma conotação servil, mas desde princípios do século VII ela passou a ser empregada também para se referir aos homens livres, ainda que de condição inferior. Por fim, como desde o começo do século VIII elementos da aristocracia entravam nas relações vassálicas, estas acabaram por se enobrecer e mesmo, mais tarde, por se tornar exclusividade dessa camada social.
Como observou o historiador belga François-Louis Ganshot, “a difusão das relações vassálicas acabou por subtrair, em larga medida, um grande número de homens livres à autoridade imediata do Estado”. Mas também, lembra o mesmo autor, essas relações mantinham vínculo entre os grandes senhores territoriais e o rei, fornecendo “um elemento, e até elemento capital, de resistência à completa dissolução do Estado”.

A Clericalização da Sociedade
Desde a cristianização do Império Romano ocorreu a clericalização da sociedade ocidental em dois sentidos: quantitativamente, porque a proporção de clérigos em relação ao conjunto da população tornava-se muito superior à que existira no paganismo ou mesmo que viria a existir em outras sociedades; qualitativamente, porque o clero tornava-se um grupo social diferenciado dos demais, possuidor de privilégios especiais e de grande poderio político-econômico.
Em uma só palavra, monopolizando a comunicação com Deus, o clero tornava-se o responsável por todos os homens.
Perfeitamente integrada na economia agrícola da época, a Igreja passou a receber e ceder benefícios. Tinha, portanto, vassalos, colonos e escravos. Desde o século IX ela detinha, estima-se, um terço das terras cultiváveis da Europa católica.

As transformações na mentalidade
A mentalidade tem um ritmo histórico muito mais lento que os fatos sociais, econômicos ou políticos. Para nós, aqui, basta lembrar três dessas transformações: um novo relacionamento homem-Deus, uma nova concepção do papel do homem no universo e uma nova auto concepção do homem.
            Firmava-se aos poucos uma mentalidade simbólica que via no mundo um grande enigma decifrável somente pela fé. Um mundo que ganharia sentido apenas por intermédio de Deus, e que gerava então uma nova forma de relacionamento entre Ele e os homens. A razão passava a ser vista como um instrumento diabólico, que mantinha o homem na ilusão de uma falsa sabedoria que o afastava da Verdade. A natureza passava a ser vista como um véu entre a humanidade e Deus.
Franco Júnior, Hilário. 1999. Formação. Feudalismo – Uma sociedade religiosa, guerreira e camponesa. São Paulo: Ed. Moderna. (Texto adaptado)
Responda as questões sobre o texto:

1. O texto acima foi adaptado de um dos livros sobre Idade Média do historiador Hilário Franco Júnior, considerado um dos maiores estudiosos do assunto no Brasil. Após muitos anos de estudos, o historiador elaborou a sua interpretação sobre o processo de formação do Feudalismo. Cite as causas que teriam gerado o Feudalismo segundo Hilário Franco Júnior. De acordo com a sua opinião, destaque um dos motivos que teriam formado o Feudalismo.
            As origens do sistema feudal remontam à crise do escravismo romano, iniciada no século III, que abalou seriamente a economia e fez surgir o colonato. A plebe foi abandonando as cidades em busca de trabalho e proteção no campo, colocando-se sob a dependência dos proprietários rurais. A fixação dos camponeses à terra fortaleceu a ruralização e a autossuficiência das vilas (latifúndios). As invasões germânicas contribuíram para o êxodo urbano. Vivendo da exploração das terras, os germanos tomaram propriedades ou tornaram-se camponeses como os colonos, regulando suas vidas com base nos costumes. A formação dos reinos romano-germânicos manteve a dependência entre as pessoas: senhores e camponeses, por meio de obrigações, reis e senhores, por meio do comitatus e da doação de terras e cargos. No início do século IX, disputas pelo poder no Império Carolíngio levaram à descentralização do poder real, já enfraquecido pelas doações de feudos.

2. Transcreva do texto frases que expliquem as seguintes afirmações:
a) Decadência da vida urbana:
                “(...) naturalmente a crise se manifestava mais claramente nas cidades, com as lutas sociais, a retração demográfica, a pressão do banditismo e dos bárbaros, a contração do comércio e da indústria artesanal. Entende-se, portanto, por que os mais ricos se retiravam para suas grandes propriedades rurais (villae), onde estariam mais seguros e poderiam obter praticamente tudo aquilo que necessitavam para viver.”
b) A Igreja não se restringia à religiosidade:
                “Perfeitamente integrada na economia agrícola da época, a Igreja passou a receber e ceder benefícios. Tinha, portanto, vassalos, colonos e escravos. Desde o século IX ela detinha, estima-se, um terço das terras cultiváveis da Europa católica.”
c) O Rei não tinha poderes, além das muralhas de seu feudo:
            “Com a ruralização, a tendência à autossuficiência de cada latifúndio e as crescentes dificuldades nas comunicações, os representantes do poder imperial foram perdendo a capacidade de ação sobre os vastos territórios. Mais do que isso, os próprios latifundiários foram ganhando atribuições que eram anteriormente da competência do Estado.”
d) As leis foram substituídas pelas relações pessoais:
“a difusão das relações vassálicas acabou por subtrair, em larga medida, um grande número de homens livres à autoridade imediata do Estado”. “(...) essas relações mantinham vínculo entre os grandes senhores territoriais e o rei, fornecendo “um elemento, e até elemento capital, de resistência à completa dissolução do Estado”.

3. Caracterize a sociedade feudal.
            A sociedade feudal, estamental e hierarquizada, compreendia três camadas principais: clero, nobreza e servos. Os dois primeiros eram detentores, respectivamente, da autoridade espiritual (religiosa) e da temporal (política), embora o alto clero, administrador dos feudos eclesiásticos, exercesse os dois poderes. Os senhores dos feudos dominavam o campesinato preso à terra (servos) e, em troca de assistência religiosa e proteção militar, exigiam dele obrigações consuetudinárias em gêneros ou trabalho. A sociedade feudal compreendia ainda segmentos menores, com funções específicas, como os ministeriais (funcionários do feudo), os soldados comandados pelo senhor e os vilões (camponeses livres que trabalhavam no manso senhorial).


4. Explique as relações de poder na Idade Média Europeia a partir do esquema abaixo.
Legenda:
1. Rei
2. Grandes vassalos
3.  Pequenos vassalos

4. Servos e camponeses livres arrendatários


            Durante a Idade Média, a terra tinha grande significado. Deste modo, tornou-se comum a concessão de terras em troca de serviços prestados. Esta concessão dava-se entre nobres. Aquele que concedia era o suserano e o que a recebia seu vassalo. Construía-se entre os dois uma relação horizontal, de ajuda mútua. O vassalo jurava fidelidade ao seu suserano, prometendo acompanhá-lo em tempos de guerra, além de pagar seu resgate caso fosse preso. O suserano, por seu turno, comprometia-se a proteger militarmente o vassalo e conferir-lhe o direito de posse daquela terra. Embora a relação fosse horizontal, de igual para igual, em termos hierárquicos, o suserano encontrava-se acima do vassalo.  Neste contexto, o rei era o suserano mor, dono de todas as terras, a quem todos devinha obediência e fidelidade. Contudo, na prática, não era bem assim. Com a contínua divisão da terra e o amplo poderio dos senhores feudais, o poder real foi desfragmentando-se, de modo que os feudos passaram a auto-governar-se, com regras e “governos” próprios. O rei, progressivamente, perdia poder e influência. Havia, também, relações sociais de servidão entre o senhor das terras e o camponês (servo) - não possuidor de terras. O servo tinha vínculos com a terra e, pelo direito de usá-la para seu sustento e em troca de proteção, era explorado e submetido a diversas obrigações pelos nobres detentores das terras.

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