quinta-feira, 12 de junho de 2014

O Islã no centro do mundo: a religião que mais cresce vive uma hora decisiva

O mundo islâmico vem sendo rotineiramente devassado nos meios acadêmicos há muito tempo. Contudo, até 11 de setembro de 2001, quando dezenove muçulmanos praticaram o maior atentado terrorista da História, as multidões nos países ocidentais não sabiam que o universo dos turbantes era muito mais complexo do que parecia. Depois do fim do comunismo, os Estados Unidos e seus aliados - os países industrializados da Ásia e da Europa - convenceram-se de que a modernidade, a democracia e a economia de mercado são desejadas em todo o mundo. Devido a outra escala de valores, porém, tais novidades não são bem-vindas para um número significativo de muçulmanos. Foi a descoberta de que o Islã era um dos limites da globalização, até então despercebido.
Após o choque resultante da carnificina cometida em nome de Alá, o mundo islâmico foi repentinamente iluminado por um holofote. Nunca, até onde a memória alcança, uma civilização foi tão escrutinada como a muçulmana está sendo nos dias atuais. Uma cultura e uma fé que viviam relegadas à periferia do mundo dito civilizado despertam agora um interesse voraz em pessoas que até outro dia dispunham de pouquíssimas referências sobre o universo islâmico. Os governos das nações poderosas também estão ávidos por entender e agir de forma a evitar uma explosão nas sociedades dos turbantes que elegeram como seu herói o terrorista Osama bin Laden e como bandeira a guerra santa aos valores ocidentais. E, no decorrer desse processo de exploração, a opinião pública mundial descobriu que esse universo era menos administrável do que se imaginava.
20% do mundo - Para elevar ainda mais o grau de importância dessa revelação, pesquisas realizadas ao redor do globo mostraram que o islamismo é a religião que mais cresceu nas últimas décadas, e que essa tendência não mudou depois do 11 de setembro. Em 1973, havia 36 países com maioria muçulmana no planeta; exatos trinta anos depois, eles já eram 47. Também no início dos anos 70, o islamismo reunia cerca de 370 milhões de fiéis. Três décadas depois, eles chegaram a 1,3 bilhão. Hoje, quase 20% da população do mundo é muçulmana, e estima-se que, em 2020, de cada quatro habitantes do planeta um seguirá o islamismo. Essa explosão demográfica - em parte provocada pela proibição religiosa do uso de métodos contraceptivos - está devolvendo ao islamismo uma força considerável.
E não é só no Oriente: com o liberalismo religioso da maior parte do Ocidente, os muçulmanos também se espalham com alguma facilidade. Só na Europa, berço da civilização cristã, existem 20 milhões de muçulmanos, e quase metade deles está instalada na Europa Ocidental. Há mesquitas até na Roma dos papas. Outro fator que emprestou maior visibilidade aos países islâmicos está em sua imensa riqueza estratégica: são donos das mais generosas reservas de petróleo do mundo. Entre os cinco maiores produtores de óleo do Oriente Médio, o PIB conjunto quadruplicou nos últimos trinta anos, enquanto o PIB mundial apenas dobrou de tamanho. O crescimento do rebanho e a fartura do petróleo, no entanto, produziram um barril de pólvora.


Bomba-relógio - Em geral, os regimes dos países islâmicos são ditaduras teocráticas e a riqueza não é distribuída, deixando a maior parte da população relegada à miséria. É dentro desse caldeirão paradoxal que ressurgiu a força da religião, em especial depois da Revolução Islâmica no Irã, em 1979. O Islã é multifacetado por várias nações, mas tem uma característica curiosa: não produziu um só país democrático e desenvolvido. O contraste entre a pobreza dos fiéis e a riqueza do Ocidente fomentou rancor. A resposta às dificuldades materiais e à falta de liberdade, levantada nas mesquitas, é a de que a identidade religiosa supera todos os valores políticos. A questão tornou-se urgente depois do 11 de setembro, mas até agora não se encontrou uma resposta: como desarmar a bomba-relógio do radicalismo islâmico? Enquanto os nós não forem desfeitos, é possível que o extremismo e o fanatismo, embora restritos a grupos minoritários, sigam achando espaço para ensanguentar a história humana.
(Adaptado de http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/islamismo/contexto_perspectivas.html, acesso em 11/06/2014.)

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